sábado, 16 de junho de 2012

Cinema: Meio de Educação de Massa (MEM)

O cinema é arte, meio de comunicação de massa e, sobretudo, meio de educação de massa. O que isso significa? Significa que o cinema cumpre o papel de não apenas materializar uma linguagem que sugira, que movimente os elementos gramaticais do cinema para cumprir um efeito prazeroso aos sentidos, nem que o cinema é uma tecnologia que vise plasmar os gostos visuais. O cinema é tudo isso, mas é pricipalmente um discurso que textualiza valores e ideologias e, por conta disso, tem o propósito de persuadir o espectador para que mude o seu comportamento em atendimento a uma dinâmica dentro do tecido social.

A palavra "educar", segundo o diconário de Houaiss (2009), significa:


1) dar a (alguém) todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de sua personalidade; transmitir saber a;
2) dar ensino a; instruir;
3) fazer (o animal) obedecer; domesticar, domar;
4) Aclimar;
5) procurar atingir um alto grau de desenvolvimento espiritual; cultivar-se, aperfeiçoar-se.

Com isso, podemos dizer que o cinema educa porque possibilita o desenvolvimento da personalidade, transmite saber, domestica e aperfeiçoa a sensibilidade e a cognição de mulheres e homens com um alcance massificador. A escolha de um filme, portanto, é extremamente importante para a formação dos alunos, pois o seu uso, pertinente ao grupo escolar, ajuda enormemente a potencializar as operação mentais para a construção do conhecimento e para uma reflexão mais crítica da experiência sociocultural dos sujeitos. Se o cinema comercial atrai tantos alunos para as salas de cinema, cabe ao professor trazer para a sala de aula esses filmes para identificar, juntamente com os alunos, os aspectos que provocam a adesão do público e se esses aspectos são apenas transportadores ou se eles sedimentam visões que venham interferir nas relações interpessoais.


Questões como: até que ponto os filmes de ação funcionam apenas como condutor de agressividade? Eles não cumpririam a função de retroalimentar essa agressividade?

O cinema, portanto, pode ser arte, meio de comunicação e educação de massas, o que o torna valioso nas aulas de qualquer disciplina. 

É importante que acompanhemos os filmes que hoje são feitos para o público infantil e adolescente para vermos os valores ali veiculados, mas, também, para percebemos as contradições e ambiguidades. Muitos desses filmes tentam manter uma estrutura falocêntrica de poder, mas não conseguem sustentar o poder unidirecional em toda a narrativa. Ou então, seus idealizadores podem querer mostrar a complexidade que envolve as relações de poder e terminam desenhando uma narrativa unidirecional apologética à força bruta.



Em Branca de Neve e o Caçador há uma cena muito emblemática. No momento em que o Troll ataca Branca de Neve e o caçador, há uma clara referência ao poder da beleza associado à mulher que a possibilita sobreviver, pois é por meio dela que o homem (metaforizado pelo monstro) sucumbe e enfraquece (significa dizer também que as mulheres feiam morreriam). Quando o caçador, atingido anteriormente pelo monstro, acorda, ele pega o machado (símbolo fálico) e cambaleando tenta acertar o bicho, mas atinge o vazio. Este momento poderia ser interpretado como um desempoderamento masculino, já que o papel de protetor não era mais necessário. No entanto, esta cena foi feita para despertar o riso na plateia, atenuando a perda do poder, ainda que momentaneamente, do homem. Este enunciado aponta para a dificuldade de retratar o homem fora da função hegemônica de gênero possível apenas como uma piada e não pode ser levada a sério.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Princesinha, de Alfonso Cuarón

Alfonso Cuarón é um diretor mexicano conhecido por ter dirigido um filme instigante e polêmico: O Filho da Esperança (Children of Men), em 2006. Cinco anos depois, dirigiu Convenção das Bruxas (Witches) aproximando-se das narrativas de encantamento da qual faz parte A Princesinha (A Little Princess), 1995.
O filme é baseado no livro de Frances Hordson Bennet, escritora inglesa, autora de outro clássico da literatura infantojuvenil e que também virou filme: O Jardim Secreto, dirigido por Agnieszka Holland, em 1993, um filme que encanta adultos e crianças (exibi aqui em casa e a minha sobrinha de 9 anos gostou muito).
A Princesinha conta a história de Sara (Liesel Matthews) uma menina inglesa que vive na Índia (assim como a protagonista de O Jardim Secreto) em convívio com a natureza e com as narrativas orais. Certa vez, à beira do rio, acompanhdada de um menino e mulher hindu, Sara pergunta se a mulher era uma princesa e ouve da mulher a seguinte resposta: “Toda mulher é uma princesa”. O contato com a cultura oriental e com as narrativas orais fez de Sara uma menina imaginativa, inteligente e corajosa. Mesmo órfã de mãe, o pai, um capitão do exército inglês, tenta criar Sara, mas a Primeira Guerra Mundial o convoca, forçando-o a deixá-la bem instalada em um orfanato em Nona Iorque onde a sua mãe fora criada.


Sara inicialmente tem uma vida de conforto, mas tão logo recebe a notícia equivocada de que seu pai havia morrido, passa a ser tratada como empregada, juntamente com outra criança negra, Becky, ambas agora proibidas de conversar com as meninas da casa. No iníco, Sara tenta infringir as regras e consegue isso com alguma dificuldade, mas com a notícia da guerra e da confiscação dos bens de família, a preceptora a retira do melhor quarto e aloja-a no sótão, cuja varanda fica de frente à varanda do vizinho que irá acolher o pai quando este retornar desmemoriado e cego, devido ao choque traumático da guerra.
Frances Hordson Bennet
Sara constrói laços de amizade com as meninas que acabam se encantando com as suas histórias, melhores do que aquelas inadequadas às crianças (uma crítica da escritora) narradas sem encantamento. Vê-se que a inadequação é muito mais em relação à linguagem do que ao tema, já que as histórias de Sara são também histórias de amor, assim como as narradas em grupo, através do livro, em frente a lareira. No filme, fica clara a intertextualidade com o conto Rapunzel, pois a princesa é trancada em uma torre alta vigiada por um dragão de várias cabeças.
As histórias de Sara também ajudam-na a superar as perdas e as injustiças, buscando alegrar-se e tirar daquela situação momentos positivos que a fizessem sobreviver. A figura misteriosa de um servente indiano morador da casa cuja varanda fica em frente ao sótão de Sara, funciona como uma ponte de ligação cultural entre a Índia e a Europa, uma relação que a literatura infantil conhece muito bem. O indiano quase não fala durante o filme, mas observa a realidade em que vive e vê em Sara uma "princesa", isto é, mesmo na adversidade a menina não deixa de ter gestos nobres, como a generosidade e a solidariedade. Mas, também, sabe fazer uso das palavras para enfrentar a maldade das pessoas. Em uma das situações, ela lança uma praga a uma menina que a maltrata ferozmente e em outra toca à fundo na preceptora quando lhe pergunta se o pai dela nunca lhe havia dito que era uma princesa.
O filme fala de amor e de esperança em tempos de guerra.
Ficha Técnica:
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Richard LaGravanese
Produção: Warner Bros.
Ano: 1995


Elenco principal:
Liesel Matthews (Sara)
Liam Cunningham (Cap. Crewe/Prince Rama)
Eleanor Bron (Miss Minchin)
Rusty Schwimmen (Amelia Minchin)
Arthur Malet (Charles Randolph)
Vanessa Lee Chester (Becky)
Sandeep Walia .... Indian servant

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

MEC abre concurso de cinema na escola

Uma ótima notícia!


Finalmente, as escolas da rede pública recebem incentivo para iniciar o aluno a fazer cinema. Falta agora inserir o profissional de cinema na escola de ensino básico para que possa ensinar os alunos. Afinal, como eles vão aprender a usar a linguagem cinematográfica ou de televisão, a técnica? Como eles irão aprender a escrever o roteiro em formato próprio deste gênero? De qualquer sorte, serve como provocação para aqueles que, ao lerem a chamada, se perguntarão: e como vou fazer isso?

Segue um trecho que está na página virtual:
O Concurso consiste na elaboração de roteiros e posterior produção, em formato de curtas metragens, visando estimular a produção escrita dos jovens, fomentando seu desenvolvimento pleno por meio da expressão do pensamento, das ideias e dos sentimentos, aproximando-os das indústrias criativas, tais como, neste caso, o cinema e a televisão.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Educar pelo Cinema

O verbo educar é atravessado, desde a sua etimologia latina,  por outros verbos associados à ideia de formação, isto é, dar uma forma, uma estrutura, dispor em uma determinada ordem. Sendo assim, educar alguém (verbo transitivo direto) exige um complemento verbal, mas esse complemento não pode ser inanimado. Afinal, não educamos mesas, bolas, lápis, mas, sim, seres viventes. É possível educar plantas? E cachorro, gato, galinha, urso? Aqui já entramos em outra esfera...

Atribuímos o verbo educar a pessoas, por convenção, pois se por um lado entendemos que podemos criar um cachorro, não aceitamos com a mesma facilidade que podemos instruí-lo, daí recorrermos a outro verbo para estes seres de estimação: adestrar. Este verbo tem o sentido de treinar e remete a gestos repetitivos, usado também entre humanos, mas para aqueles que executam atividades repetitivas como forma de aprimorar certas habilidades. 

Instrução requer uma atividade mais complexa, já que se baseia em aplicar estratégias cognitivas, metodológicas, interativas que levem o sujeito a responder com autonomia aos estímulos oriundos das leituras, das dúvidas, enfim das mediações linguístico-semióticas que chegam aos olhos dos sujeitos.

Uma dessas mediações é o filme ou a narrativa fílmica. Esse gênero textual é responsável por boa parte das leituras de crianças e adolescentes e não podemos deixar de verificar o teor pedagógico contido em cada um dos filmes. Em Alvin os Esquilos 3, por exemplo, em cartaz nos cinemas, há uma eterna discussão entre a relação criança-adulto: até que ponto conferir autonomia aos filhos? O que é obediência e desobediência? Deve-se hierarquizar as relações entre pais e filhos?

No filme, sabemos o quanto David ("pai" e empresário) tem dificuldades em manter os esquilos correspondendo às suas expectativas, principalmente quando ele precisa se ausentar, o que significa dizer viver um pouco, cuidar de si. Em dois momentos do filme, David perde o controle com os esquilos: uma quando ele sai para jantar com o comandante do navio (trata-se de um cruzeiro) e uma outra quando ele resolve aproveitar o sol e dorme na espreguiçadeira. De qualquer sorte, fica a ideia de que longe das vistas do adulto, as crianças fazem sempre alguma coisa que resultará em acidente, um prejuízo para elas ou para os adultos. Um momento interessante dá-se quando Alvin pega um canivete suiço e é advertido por David quanto ao seu uso. Porém, quando se perdem na Ilha, David vê-se obrigado a pedir que Alvin use o canivete para libertarem-se dos perigos. Fica claro que o objeto em si pode ser caminho para um acidente, mas, também para a libertação. Fica também a ideia de que em um determinado momento os pais deverão confiar na competência dos filhos para o exercício de algumas atividades, talvez incutida neles como inapropriadas. O contexto ajudará a definir o que é apropriado ou não.

As animações ensinam por si só às crianças (e aos pais) a pensarem o mundo.  Podemos achar que diante de um filme ou um livro elas não estão pensando, apenas se emocionando, o que não deixa de ser uma forma de "pensar", isto é, de estabelecer nexos que possam ajudá-las a opinar, ajudar a discernir o que é bom ou ruim e a comparar, por contraste, com outras ideias. Mesmo que no filnal, ao passar os créditos, elas deem um pinote e corram para brincar, não significa que nada lhes aconteceu. Em algum momento de sua vida, pode ser uma questão de horas ou décadas, alguma cena, um enunciado será revivido em uma conversa ou atitiude. A questão é identificar de que maneira um filme contribuiu para isso.

Desta forma, o cinema educa porque educar implica em mudar o comportamento, a atitude responsiva das pessoas, de forma profunda e quase surda que nem percebemos, e talvez seja essa a parte mais difícil nos estudos de recepção: perceber de que forma um sujeito ou um grupo de pessoas foram influenciados por um filme ao ponto de mudar a forma de pensar e de agir.

Quantas pessoas adultas aprenderam, foram influenciadas (mudando a forma de ver e ser no mundo) por filmes como: Os incompreendidos, de Françoise Trauffaut, por E o Vento Levou..., de Victor Flemming ou Juventude Transviada, de Nicholas Ray? E, entre os pequenos, cabe a pergunta: qual o papel dos desenhos e filmes da Disney na formação das crianças brasileiras?

Neste final de semana, fiquei sabendo que os meus sobrinhos não tinham visto E.T. Coloquei o DVD e observei que eles ficaram fascinados. Riram e se comoveram com as mesmas cenas que as crianças dos anos 80 - hoje marmanjos com 30 anos - se impressionaram.

O cinema educa pela emoção. A arte educa de uma forma diferente da ciência e nem por isso é menor. É uma maneira diferente de mediar o conhecimento, de fazer com que o sujeito tome consciência de si e do mundo. O cinema leva o espectador a experimentar emoções, põe valores em questão, produz esteticamente uma maneira de ver e ouvir diferente de qualquer outra arte audiovisual, une por meio da narrativa membros de uma comunidade discursiva, explora as possibilidades de transpor o espectador para outros espaços e lugares, enfim, o cinema ensina a escrever a vida por meio de uma linguagem técnica e em diálogo com outras linguagens, daí a sua grande riqueza.

TCCEX

O texto do TCCEX deverá ser dissertativo. Vejam um filme brasileiro dirigido por uma mulher e interpretem-no. É uma oportunidade para verem mais um filme de uma diretora e exercitar a sua observação com base em alguns aspectos que já vimos (neste e no curso anterior): planos, ângulos, trilha sonora, iluminação, estrutura ordem - confrontação - ordem (ainda vou aprofundar sobre isso), construção das personagens (heroi/vilão), discurso do filme (ideologia, veiculação de valores), referências intertextuais, etc.

RETORNO - II CINEMA E MULHER

Voltamos às nossas atividades extensionistas com o II Cinema e Mulher. Temos mais dois dias - 04 e 11 de fevereiro e daí encerraremos esta versão. Não se esqueçam do TCCEX com uma análise sobre um filme dirigido por uma mulher brasileira. Data de envio até 18/02.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Citação de Clint Eastwood

“Na realidade, para mim, a escrita sempre foi a verdadeira forma de arte. Dirigir e interpretar são formas de arte interpretativas. Por isso a escrita é o mais importante”
Clint Eastwood, revista Written By de Nov/Dez 2011 apud João Nunes)


Clint Eastwood é um renomado ator, produtor e diretor de cinema nascido nos Estados Unidos, conhecido por ter dirigido os filmes Menina de Ouro, Gran Torino, Cartas de Iwo Jima, Invictus, A Troca, entre outros.