terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cinema e Educação

Quando comecei a estudar cinema, a crítica e as teorias fílmicas, iniciei um movimento memorialístico tentando identificar na minha própria formação de que forma o cinema esteve presente. Não resta dúvida de que ele esteve estava presente, mas de que maneira ele se entrelaçou às minhas aventuras cotidianas?

Se eu considerar o cinema como sala de exibição, diria que esta aproximação se deu nos anos 80, quando já era adolescente. Antes disso, tinha ido apenas uma vez à sala escura para assistir Cinderela, da Disney. Mas se considerar que o cinema também é o filme (pode parecer estranho dizer isso), podemos então ampliar essa aproximação, na medida em que nos anos 70 a televisão brasileira trazia em sua programação os clássicos do cinema hollywoodiano. Chopin me foi introduzido pelos dedos de Tyrone Power (talvez nem tenha sido os seus) no filme Melodia Imortal, já a história do amor impossível foi angustiantemente narrado em Suplicio de uma Saudade, tendo como protagonistas William Holden e Jennifer Jones. Sem contar com os musicais de Fred Astaire, Judy Garland, Mickey Rooney, Gene Kelly, Sid Charisse e outros que me fizeram apreciar mais ainda a dança e vê-la com beleza. Havia graciosidade e grandiosidade naqueles gestos quase prefeitos, harmônicos e tão bem sintonizados com o cotidiano das personagens como se não houvesse uma separação entre o simples movimento de andar na rua ao de bailar em uma praça. Não nos importávamos se na hora da cena de amor os atores não se beijassem, mas cantassem. Hoje pode parecer estranho, mas para o gênero e estética daqueles filmes, tais gestos eram até esperados. Os filmes infantis não ficavam atrás: Lassie, com Elizabeth Taylor, aos 11 anos, e Roddie MacDowall com 15, narrava as peripécias de uma cadela (um collie) com seus donos, tematizando a amizade. Na sequência, assisti também O Filho de Lassie cuja temática também era a amizade (o seu dono, vivido por Peter Lawford, tinha se separado do cão por ter sido convocado pelo serviço militar, compreensível já que o filme é de 1943).

Os temas eram variados, embora a procedência dos filmes fosse a mesma: os estúdios de Hollywood. Posso assegurar que a minha geração assistiu muito aos filmes norte-americanos, aos clássicos, além de, no cinema, ter tido contato com os filmes apenas legendados. Hoje eu evito assistir aos filmes dublados, pois não há como substituir a entonação e ritmo de voz de Humphrey Bogart, por exemplo.

Mas o que o cinema ensina mesmo? Ensina uma estética, um jeito de olhar, atitudes, história, cultura, arte, embora não tenhamos consciência disso quando estamos diante da tela (exceto os críticos). O cinema emociona e o faz porque nele algum gesto se materializou, tocando profundamente o espectador. O que lhe causa emoção liga-se ao seu momento, à sua visão de mundo e aos seus valores. As ações das personagens dizem algo que, ao entrar em contato com o mundo sociocultural do espectador, provoca respostas: indignação, dor, raiva, amor, vingança, esperança, conforto, prazer, enfim respostas abstratas que lançam o espectador a atitudes concretas, muitas vezes sutis. As crianças e adolescentes encontram espaço para performartizar, imitar, admirar e, assim, interagir com o mundo.

O cinema ensina a escrever uma história, um tecido feito de imagem, som e movimento, e o crítico ensina a ler essa história a partir de dispositivos analíticos, muitas vezes revelando a artificialidade e a engenhosidade do diretor. Talvez aqui resida uma questão: ao fazer isso, não se está negando o próprio cinema? Eu não tenho respostas para essa pergunta, mas devo dizer que mesmo estudando cinema, analisando a sua linguagem, continuo me emocionando com ele.