sábado, 6 de agosto de 2011

A feminilidade e o feminismo

Durante o curso Cinema e Mulher, uma cursista me perguntou como as feministas viam a feminilidade. Respondi naquele momento que as feministas viam com certa desconfiança já que o constructo da feminilidade partia do olhar masculino, pelo menos no Ocidente. Naomi Wolf, em seu livro O Mito da Beleza, afirmou que a beleza era o “calcanhar de Aquiles” das feministas e podemos dizer que de certa forma a sua colocação tem procedência na medida em que é um campo que por muito tempo ficou sendo de grande importância para a mulher, como se fosse uma questão de sobrevivência, já que o seu destino era o casamento. Mas as feministas têm posicionamentos diferentes sobre o tema e há quem defenda a ideia de que a feminilidade não compromete o engajamento político, até porque é por meio desse elemento que as mulheres obtêm avanços, principalmente se ela faz parte de uma sociedade androcêntrica.  Neste caso, para não arcar com a pecha de marginal, ela aprende a manipular com o código.
É importante salientar que as culturas têm formas de organização de gênero distintas, o que implica em padrões de beleza e de como se percebe a mulher, isso se olhamos do ponto de vista sincrônico. Mas as mudanças ocorrem também do ponto de vista diacrônico, isto é, no decorrer da história. Os padrões de beleza mudam culturalmente e historicamente. Em algumas épocas, o padrão de beleza é a mulher magra, em outros é a mulher mais encorpada. Atualmente, a mídia, uma das grandes difusoras de padrões de feminilidade, acentua o corpo magro, cabelos tratados (longos, curtos, encaracolados, lisos), rosto maquiado, unhas feitas, sem contar com os adereços (argolas, colares, pulseiras e anéis). A mulher feminina também é representada com uma voz suave, educada, além de gesticular de forma discreta. Logicamente que o modelo de feminilidade que a mídia veicula tem uma relação com o código urbano, burguês. As mulheres podem até vestir calça, mas a feminilidade está relacionada no imaginário ao vestido ou saia, se possível acompanhado de um sapato de salto. Os decotes discretos também são vistos como um aspecto feminino.
Diante disso, as mulheres que não se vêem nesse modelo são imediatamente vistas como “masculinas”, já que não se enquadram no padrão estabelecido como modelo de feminilidade. Outro aspecto que está associado à feminilidade é o contato do vestuário com o corpo, marcando a silhueta, as curvas. Cintura marcada, busto e quadril destacados formam um conjunto semiótico, marcando as duas partes que fazem parte do desejo masculino: seios e quadris, ambos importantes para a reprodução. As mulheres de seios fartos e quadris largos são vistas como boas parideiras.
Obviamente que tudo isso é construído pelo olhar masculino, mas que diante da complexidade das reações humanas e de poder, esses espaços são negociados e muitas mulheres acabam aprendendo a lidar com essas representações, tirando proveito dessa projeção do olhar masculino.  
De qualquer sorte qualquer padrão acaba produzindo comportamentos seriados que correspondem a visão da classe dominante que controla os corpos, disciplianando-os.

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